No flutuar das ondas
Enquanto o Sol não chega no seu ponto mais baixo, vou navegando sobre as
nuvens. O vento sopra em todas as direções. Minha embarcação é jogada para
todos os lados. Os remos lutam contra as correntes. Sou um marujo sem rumo guiado pela luz das estrelas, pelo brilho da Lua e o som do mar. O sal corta
meus lábios. A vida corta minhas esperanças.
No rasgar do horizonte, sinto o sabor d'alma. Na esperança de uma terra
nova, sinto o sabor da minha vida. Como marés que vem e vão. Como o pôr do Sol.
Como o nascer das estrelas e o próprio cantar dos pássaros nas manhãs
ensolaradas.
A terra não vem. A tempestade chega com raios e trovões. Gritos desesperados
oprimidos pelo som das ondas batendo sobre as pedras. Pedras, e mais pedras no
meu caminho. E não são como ilhas. São apenas pedras lisas e pontudas. A espera
para quebrar minha embarcação, meus ossos...
E se isso for só um sonho? E se o céu é só uma ilusão? É cruel apreciar
a vastidão do oceano estando sozinho em meio as agitações.
No naufragar de meu barco nasceu uma esperança. Agradeci aos deuses a
chance que foi me dado. Não esperava por mais dor. Mas são essas que nos fazem
enxergar o quanto somos pequenos. Um grão de pó perdido no azul profundo.
Fui jogado para todos os lados. Dias e dias foram despedaçando meu
corpo. Até que finalmente vêm chegando a luz. É uma embarcação, ou
será apenas o fim do túnel? Mostrando um novo caminho a seguir... Mergulhei...
Sou um marujo sem vida!
Entenda como um renascimento. Entenda como uma nova dimensão. Entenda
como um paraíso. Entenda como quiser. Mas entenda que tudo, pelo pior que
pareça, pode recomeçar no berço de um novo amanhã. No alegrar de um novo dia.
No florescer de uma primavera. Na beleza contida em todas as gotas de tempo. No
piscar de olhos compenetrados em aceitar que a vida não é inteira do jeito que
a gente quer. Mas no olhar de um ponto de vista diferente, que somos todos
heróis, sobrevivendo ao medo de viver.
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